julho, 2022

Tinker Hatfield, lenda da Nike: “Nunca tive medo da disrupção.”

A carreira de Tinker Hatfield confunde-se com a história da Nike e a marca Air Jordan, resultado da maior colaboração jamais vista entre um designer e um atleta. O mítico designer norte-americano e Vice-Presidente de Conceitos Criativos do gigante desportivo deu uma Masterclass na 4.ª edição do Bold Creative Festival. Falou da relação com Michael Jordan, da importância do storytelling nas suas criações e de quando correr riscos no Design. 

Para Tinker Hatfield, o Design sempre foi mais storytelling do que performance: “mais do que desenhar um produto que ajude a correr e resolver problemas de desempenho”, trata-se de “tecer estórias”. Nem sempre elas são óbvias, mas estão lá: a verdade é “toda a gente tem uma estória. Por exemplo, num atleta, pode ser a história de como cresceu ou se notabilizou numa modalidade.” 

Em 1988, o ícone da Nike e Michael Jordan protagonizaram uma revolução sem precedentes na história do calçado desportivo com o lançamento da Air Jordan III. Como conta Hatfield, “ele queria umas sapatilhas que fossem leves e confortáveis mal saíssem da caixa, para que pudesse usar umas novas em cada jogo. Havia um problema com a maneira como as sapatilhas de basquetebol eram concebidas, eram muito duras e tinham de ser usadas muitas vezes para se tornarem confortáveis… Nós fizemos uma lista de 20 coisas: usámos couro floater, uma palmilha mais macia, amortecimento de ar visível, baixámos o colarinho…” Em 2022, o legado continua, sendo a Air Jordan XXXV o mais recente modelo da marca. 

Pela mesma altura, a visão futurística de Tinker Hatfield foi desafiada em “Regresso ao Futuro II” (1989), quando o designer teve de imaginar como seriam as sapatilhas em 2015, o admirável mundo novo para o qual as personagens Doc Brown e Marty McFly viajam no filme. Incitado a repetir esse exercício para 2050, Hatfield diz que, acima de tudo, “os sapatos devem tornar-se mais conscientes”, não só da forma do pé e de quem o calça, mas também “do ambiente que o rodeia”: “Se o sapato reconhecesse uma superfície escorregadia, talvez ele pudesse ter maior aderência e evitar que a pessoa escorregasse. Ou, se ela estiver a praticar um desporto, ao reconhecer uma curva apertada, ficar um pouco mais largo e rígido, para que se possa parar e depois seguir uma direção diferente. E quando se descansa, tornar-se mais solto e relaxado”. Além disso, no calçado feminino, “o salto poderia mudar de tamanho”, adaptando-se à atividade e ao piso em questão.  

Tinker Hatfield dirigiu-se aos alunos do IADE a partir do seu estúdio, o lugar das ideias onde só entram duas pessoas: ele e a esposa. Aos futuros criativos, falou da importância de observar e ser-se bom ouvinte: “ouvir vai ajudar-te a decidir para onde e quão longe ir. Questionado sobre se há um tempo para a disrupção, a lenda da Nike afirma que, geralmente, tempos em que as coisas correm bem, as vendas são altas e as pessoas estão satisfeitas são terreno menos fértil para o disruptivo. Seja como for, para ele, que nunca teve medo de inovar, é a disrupção que dita o momento: “A disrupção é a minha praia.” 

O essencial do 4.º Bold Creative Festival já está disponível online. Para assistir aqui:

“A disrupção é a minha praia.”