08 Ago Fala Atelier: “Gloriously Repeating”
© Paulo Catrica
agosto, 2022
Fala Atelier: “Gloriously Repeating”
Usam e abusam do vazio, explorando até ao limite as ideias mais banais. Exaltam a cor. E têm uma quase obsessão por certos temas que se tornaram numa marca. Damos voz ao Fala Atelier, onde obras pequenas dão grandes projetos e todos os detalhes merecerem ser celebrados. Filipe Magalhães fala em nome deste atelier de Arquitetura portuense que descobrimos na presente edição do POSTER.
A 1 de janeiro de 2013, na Cápsula B807 da icónica Nakagin Capsule Tower, em Tóquio (hoje a ser desmantelada peça por peça, mas isso ficará para outro artigo), nascia o Fala Atelier. Um nome, um site, uma página de FB e um quarto com 10m2: assim foi o primeiro dia do atelier, que coincidiu com o começo de uma importante investigação empreendida pelos seus fundadores, Filipe Magalhães e Ana Luísa Soares: um retrato do dia-a-dia dos moradores do edifício que culminaria na exposição “Anticlimax: a Report on the Metabolist Dream” (2014).
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Nove anos depois, são quatro e é a partir do Porto que “usam e abusam” do vazio que lhes oferecem e os distingue em cada projeto: “A nossa encomenda é uma encomenda banalíssima, representa aquilo a que poderíamos chamar ‘o mercado’. Porque os clientes são um bocadinho desinteressados, o que nós procuramos em cada resposta é, diria, exibir-nos ao máximo, explorar a radicalidade de ideias até bastante banais, seja através de conceitos espaciais, seja através de questões plásticas, compositivas… E o que acaba por acontecer, por haver essa espécie de vazio que podemos preencher com a nossa ambição, é que os projetos acabam por criar uma identidade muito… reconhecível”, explica Filipe Magalhães.
Este exercício resulta muitas vezes na celebração de elementos que obras de grande escala não têm a mesma disponibilidade para contemplar: “Nós temos de perceber que, se calhar, uma maçaneta na nossa obra é mais importante do um alçado num grande museu, porque temos muito mais tempo para dedicar àquela maçaneta do que ele àquele alçado. O rodapé, a maçaneta, a soleira da janela são celebrados porque é o que temos para fazer.”
101 © Ivo Tavares
Certos temas atravessam o portefólio do Fala Atelier, reforçando o reconhecimento da marca: “a questão da coluna, não um elemento que precisamos de ter, mas um elemento que queremos ter, um elemento que seja de Arquitetura antes de ser de Engenharia. Interessa-nos a figura do círculo perfeito. O padrão, a cor, o uso da cor – também me parece um pecado capital na Arquitetura portuguesa não usar a cor hoje em dia – E nós chegamos aqui e pintamos umas coisas às riscas vermelhas e brancas e às pintinhas pretas… e essa mistura do padrão e da cor gera uma espécie de irritação.”
A desconstrução de tipologias é outro dos desafios que mais cativam o atelier. Foi, aliás, com uma fotografia de uma casa-não casa que responderam ao convite para participarem no POSTER: “É uma transformação de um espaço industrial, comercial, em habitação, mas, ao mesmo tempo, em galeria de Arte, porque os clientes têm uma coleção enorme de Arte e gostavam de poder morar juntamente com a sua coleção”, conta o arquiteto. O projeto parte da premissa de que nada é desenhado para ser um espaço doméstico, sendo a domesticidade algo que lhe é depois atribuído pelos seus utilizadores. A ideia de desenhar uma casa que, lá está, não é uma casa, pareceu-lhes particularmente interessante “num momento em que as coisas estão tão balizadas e monótonas.” E, quando olha para a Invicta, o lamento sobe de tom: “Sou portuense, cresci cá e vivo cá e tenho pena de como as coisas estão a acontecer porque é uma cidade com um potencial enorme e está a ser basicamente passada a limpo com uma certa falta de gosto e de ética. Sem discussão. O branco, o beije e o cinzento é que prevalecem, a ideia de autenticidade é apenas uma palavra. O que importa é o que turista vê e não o que sente (é o que a Câmara e o Património querem). Há muita malta nova com capacidade para fazer melhor, mas as entidades públicas não estão viradas para a discussão disciplinar.”
101 © Ivo Tavares
Criativos por natureza, estão condenados a ter sempre vontade de inventar algo novo: “mesmo que haja obsessões que se vão repetindo e perpetuando no tempo, essas obsessões também vão tendo formas diferentes.” Por isso, é tão difícil escolherem um projeto-bandeira: “Temos sobretudo imagens, e as imagens perduram mais do que as ideias. Estamos sempre a olhar para trás e a tentar relacionar isso com o que fizemos no passado. Cada projeto é uma ilha, mas o mais importante é o arquipélago, o conjunto de todos estes projetos, esta rede de ligações que existe entre eles.”
O que nós procuramos em cada resposta é, diria, exibir-nos ao máximo, explorar a radicalidade de ideias até bastante banais.
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