28 Jan Fahr 021.3: Pistas para a Inquietude
Nook (2018, Taiwan). Autoria: Fahr 021.3. curadoria Artfield / Huichen Wu
Fotografia: Yuchen Chao
janeiro, 2022
Fahr 021.3: Pistas para a Inquietude
Hugo Reis e Filipa Frois Almeida fazem parte de uma nova e promissora geração europeia de arquitetos. Em 2019, estiveram entre os 5 portugueses vencedores do prémio Europe 40 Under 40 distinguidos no concurso criado pelo The European Centre for Architecture Art Design and Urban Studies. Inquietos por natureza, (des)focam a sua visão do mundo entre a Arte e a Arquitetura através do estúdio criativo experimental Fahr 021.3, que criaram há 10 anos.
Na última edição do POSTER Mostra, Marvila pôde ver as marcas de um dos seus incontáveis ensaios e devaneios. As “cicatrizes” da experimentação, chama-lhes Filipa. Hugo explica como o exercício de exploração formal de uma chapa de alumínio os trouxe às grandes paredes do Largo do Poço do Bispo: “Há coisas que se perdem nos processos criativos que estão por detrás das práticas artísticas, da Arquitetura… Muito material que fica a levitar. Nós experimentamos, ensaiamos, vamos refletindo, escrevendo… E perdemo-nos um pouco nos devaneios e guardando coisas que nos vão ocupar e viver connosco em simultâneo. Esta chapa está cheia dessas marcas.” Conceptualmente, o poster do Fahr 021.3 confronta o modo como, muitas vezes, as ideias são rapidamente descartadas: “E nós não queremos isso. É parte de um processo que pode alimentar processos de outras pessoas, outras ideias. A verdade é que compramos muitas chapas – para protótipos, maquetes, – mas, de repente, elas começam a dar a imagem de uma cidade devoluta e selada, o que acontece com frequência nos outdoors sem mensagem, ou quando estão a vedar ou a tapar casas para que as pessoas não entrem aí. É uma espécie de barreira.” Em contraponto, a dupla mostra assim “o suspenso do nosso trabalho que é usado para suspender o tempo de determinadas coisas na cidade.”
FAHR 021.3 é um estúdio experimental e criativo fundado em 2012 por Filipa Frois Almeida e Hugo Reis.
Premiado internacionalmente, o trabalho do estúdio portuense é (re)conhecido pelo caráter inesperado e provocatório dos seus projetos. O seu lugar é também o da estranheza e do ludismo, movidos pela incessante procura da emoção. É um lugar onde nunca se chega, porque o objetivo é partir: Para tal, como diz Filipa Frois Almeida, “vamos buscar muitas referências à arte que nos ajudam a trazer questões e não trazem respostas.”
Se a prática manda organizar, melhorar, condicionar, aqui a regra é indefinir. Inaugurada em outubro de 2021, no edifício histórico do antigo matadouro Legazpi, em Madrid, a instalação La Hoja é disso uma boa metáfora. Trata-se de um espaço de encontro, de cultura, que “não está acabado, não é conclusivo, não está inteiramente determinado, no qual falta sempre alguém, alguma coisa (…) para se tornar uma lacuna na qual outros se possam encaixar. Um teatro côncavo.” Que, como qualquer outro teatro, só se faz com público: “Quando as pessoas usarem o espaço é que vão completar algum sentido da obra. Não faz sentido nós sermos os totais manipuladores do espaço, o espaço não nos pertence, nós damos apenas umas diretrizes e lançamos perguntas.” Pistas, sugere Hugo Reis: “Nas últimas décadas, tem-se discutido ao nível do urbanismo como alcançar a incerteza. E é impossível, porque não é possível desenhar um espaço que sirva para tudo, que sirva para abarcar todo o tipo de funções/usos de cada indivíduo. No entanto, nós podemos deixar pistas. E o nosso trabalho às vezes não tem de encerrar; pode abrir. Gostamos sempre de deixar alguma coisa incompleta.”
Instalação “La Hoja”, no edifício histórico do antigo matadouro Legazpi, em Madrid. Curadoria de Javier Peña Ibánez.
Fotografia: Josema Cutillas
A sustentabilidade tem dominado a agenda da Arquitetura. Mas, para a dupla de arquitetos, o maior desafio da disciplina tem a ver consigo mesma: “A Arquitetura de uma prática elitista e alto nível tem vindo a perder forças… Deveríamos ser mais compactos e mais avant-garde, e de repente parece que estamos todos uns contra os outros, metemos as coisas em caixas (“este é arquiteto para isto, aquele é para aquilo”). As pessoas ficam sem perceber quais são os limites da nossa ação”, defende Hugo. Por isso, no futuro, o arquiteto quer ver o estúdio “crescer em partilha. Interessam-me estratégias territoriais onde a arquitetura seja um meio a par de muitos outros, que no ambiente, na mobilidade, na educação.” Já Filipa pretende “aprofundar cada vez mais outros temas. Interessa-me trabalhar com artistas e trazer mais o lado humano às nossas propostas.” Na perspetiva de Hugo, esse Humanismo pode abrir caminho ao autoconhecimento e, logo, à realidade que cada indivíduo convida a construir: “A sociedade precisa de abanões, de ser confrontada com realidades opostas, de rutura, para assim entender a sua própria identidade. Se nós, em pequenos gestos, chegarmos às pessoas dessa forma, estamos a dar-lhes liberdade para pensar por si.”
Em 2015, a fachada do antigo edifício da Oliva, ao lado da estação de S. Bento, acolheu a instalação artística “Metamorfose”. Programa Locomotiva (Porto Lazer).
Fotografia: FG+SG
Premiado internacionalmente, o trabalho do estúdio portuense é (re)conhecido pelo caráter inesperado e provocatório dos seus projetos. O seu lugar é também o da estranheza e do ludismo, movidos pela incessante procura da emoção.
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